Tudo que você precisa saber do mercado de VCs para 2024
Tudo que você precisa saber do mercado de VCs para 2024
O fenômeno das startups e empresas virando “tech” é bem novo no mundo. Com a evolução exponencial da tecnologia e as mudanças que vêm acontecendo na economia, cada semana parece um novo ano praticamente. Layoffs junto com contratações, investimentos e aportes junto com empresas falindo. Tudo ao mesmo tempo, e você não sabendo se a sua empresa vai falir ou virar um novo unicórnio.
Comparado a mercados bem mais tradicionais como o de alimentos, o mercado tech parece uma confusão. Quantas vezes você já não se deparou com várias notícias falando do otimismo com 2024 e, na página seguinte, como esse ano vai ser o pior da história. É quase impossível acompanhar tudo isso. E sendo transparente, até pra escrever esse texto foi difícil.
A inteligência artificial ainda entrou no meio de tudo isso, pra deixar você ainda mais maluco sem saber se no ano que vem vamos ter uma skynet ou só um ChatGPT te ajudando a escrever um texto chato.
Mas como estou aqui pra isso, o objetivo é descomplicar tudo que o mercado tech vem passando e quais são as expectativas, projeções e mudanças para esse ano. Você acha mesmo que os C-Levels das empresas vivem nessa loucura toda ou conseguem pensar um pouco mais no longo prazo. Então, vou tentar trazer isso pra você e revelar todos os segredos pra esse ano.
Brincadeiras a parte, no final do texto vou colocar todos os links, artigos, estudos, pessoas e qualquer outra fonte de informação que usei pra escrever! Vamos lá!
Como foi o mercado em 2023
Antes de olhar pra frente, é essencial entender como foi o nosso querido 2023. Muita coisa aconteceu, deixou de acontecer e nos deixou mais e mais confusos. Mas calma! Vou resumir aqui!
Pra quem viveu 2021, em que cada startup da esquina recebia um aporte milionário, esse ano foi só o fracasso. E foi, mas em partes!
O total de investimentos em 2023 na Latam foi de US$3.4Bn, representando uma queda de 80% em relação ao pico em 2021. Considerando apenas o Brasil, essa queda foi um pouco menor, mas longe de ser positiva.
Separando esses investimentos por setor, o resultado foi muito puxado pelas Fintechs, que mesmo enfrentando um ano difícil, ainda continuaram a receber aportes.
Um outro dado importante, embora o número de startups apoiadas por capital de risco esteja aumentando, o capital investido em 2023 é menor do que em 2019 e 2020. Uma tendência de diminuição dos aportes começou e não deve acabar tão cedo.
E essa queda de aportes tem uma explicação “simples”: o crédito no mundo todo ficou mais caro, e para os investidores é mais rentável colocar o seu dinheiro em investimentos seguros (que dessa vez tinham um retorno melhor) do que colocar milhões em jovens que nunca empreenderam e tem uma ideia revolucionária (te parece arriscado né?). Esse cenário pode mudar em 2024, com tendências de queda da taxa de juros do Brasil e dos EUA, mas tudo ainda é bem incerto.
E dentro das startups, tornou-se cada vez mais importante ser economicamente viável e ter um unit economics saudável. Métricas antes “ignoradas” como margem bruta, margem por colaborador, lucro e queima de caixa, passaram a ser essenciais. E convenhamos, quais startups estavam economicamente maduras para isso? Quantos casos de empresas que tinham 10 pessoas na mesma função você ouviu falar em 2021. Por isso tantos layoffs…
Como vai ser o mercado em 2024
Agora que você entendeu o panorama do ano passado, vamos ao que interessa. Como vai ser o mercado em um geral esse ano? Quais são os principais pontos que vou ouvir o tempo todo?
#1 Aportes muito melhor precificados, mais “sóbrios” e menor disponibilidade de capital
O dinheiro nunca vai deixar de entrar nas empresas. Toda empresa que representar um retorno de capital relativamente seguro vai continuar recebendo dinheiro e, muito provavelmente, mais ainda que antes.
O ano mal começou e startups começaram a receber aportes grandes. Exemplo da Conta Simples que recebeu 200 milhões de reais em uma rodada de Series B. Por quê tudo isso? Simples: a empresa anunciou que atingiu o breakeven. Muito mais seguro investir toda essa grana em algo que já dá lucro que uma startup disruptiva que pretende revolucionar o mundo com seus 50 colaboradores.
Essas empresas com eficiência organizacional grande ainda vão receber dinheiro: A Conta Simples tem 270 funcionários de acordo com o linkedin. Empresas como a Brex, que tem 1500 funcionários e um valuation gigante, vão continuar atraindo os olhos de VCs.
Ao mesmo tempo, empresas que antes tinham valuations super altos e precisavam queimar bastante caixa para se manter, vão precisar diminuir seus valuations ou vão fechar as portas. As empresas Latam estarão baixando de forma significativa os valuations, encontrando assim uma maior liquidez de investidores querendo investir.
Aqui é um exemplo claro. Empresas que antes eram avaliadas em um múltiplo de 20x a sua receita, caíram para quase 4x a receita.
O estudo com os dados está aqui!
Junto com tudo isso, a tendência é a diminuição do capital disponível, pelo menos na América Latina e no Brasil. Os fundos locais estão com reservas menores dado o alto custo de oportunidade em 2023, e os internacionais estão mais cautelosos com a região (dado o risco/retorno) e tem focado sua atenção em outras oportunidades maiores.
Com isso, o investimento fica concentrado em empresas bem mais maduras e com oportunidade de crescimento interno.
#2 M&As
A tendência é que fusões e aquisições se intensifiquem ao longo deste ano. Com a desvalorização das empresas e valuations mais acessíveis, as empresas estratégicas se tornam “mais baratas”, proporcionando uma oportunidade única de avançar anos no desenvolvimento de produtos por meio da aquisição de empresas estratégicas.
Para efeito de comparação, nos últimos dois anos, o volume de fusões e aquisições atingiu aproximadamente US$ 49 bilhões e experimentou um aumento para mais de US$ 60 bilhões, impulsionado por aquisições no campo da inteligência artificial (IA).
A previsão é que parte dessas operações de fusões e aquisições ocorra por meio da consolidação de setores específicos.
O mercado de Software as a Service e de IA são os principais. É esperado que os principais players liderem a aquisição de outras empresas locais, visando expandir os casos de uso ou impulsionar o crescimento regional e a base de clientes, incentivando ainda mais a venda interna, que possui um custo de aquisição bem menor. A métrica de CAC nunca foi tão importante.
#3 Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) e os dados continuam a dominar o cenário de financiamento, à medida que fundadores e investidores buscam aplicações inovadoras dessa tecnologia.
Empresas e startups, em particular, começam a relatar melhorias significativas na produtividade graças à IA, reduzindo o crescimento de sua força de trabalho, mas aumentando a receita tanto quanto projetado. A Receita Recorrente Anual (ARR) por funcionário aumenta 10%, o dobro da média da última década. É um tema super estratégico para atrair novos investimentos com a eficiência operacional.
Na América Latina, a inteligência artificial está impulsionando a digitalização de pequenas e médias empresas (PMEs). Chatbots baseados em IA simplificam tarefas em plataformas como o WhatsApp, gerando leads e reduzindo os tempos de resposta. Startups têm a oportunidade de facilitar a transição digital em uma região onde ainda existem desafios estruturais.
#4 IPOs
Esse aqui é um tema mais fraco no Brasil, mas nos EUA são esperados alguns IPOs grandes, para aumentar ainda mais a disponibilidade de capital. O Reddit por exemplo flerta com IPO próximo de US$ 15 bilhões para 2024.
No Brasil o cenário de retomada em 2024 é esperado, possivelmente depois do segundo trimestre do ano. A inflação mais controlada, a sinalização de trajetória de queda da Selic e a reforma tributária podem sinalizar um cenário para retomada, depois de dois anos de seca.
#5 Mercados em específico
Para os mercados em específico, as tendências são um pouco diferentes. Alguns mercados como o de fintechs vão crescer mais ainda e tem potencial para ser gigante. Outros nem tanto.
Fintech
Apesar de uma ligeira retração em 2023, a fintech continua sendo o setor mais maduro, capturando 40% do capital de risco. Por ser um dos setores mais rentáveis da economia global, essa tendência deve continuar no Brasil.
As tendências atuais incluem ainda mais a entrada em mercados B2B, que ainda carece de soluções completas para as empresas. Empresas de fora como a Clara vêm ainda mais fortalecendo a entrada no Brasil. Empresas mais consolidadas na Europa começaram a vir para o Brasil, como a Revolut e Ramp por exemplo.
Dentro da própria América Latina, empresas como o Nubank vêm aumentando os investimentos e os esforços em países como Colômbia e México. Recentemente mesmo o Nubank atingiu um milhão de contas em um mês no México.
A agenda do Banco Central para crescer ainda mais o sistema de pagamentos brasileiro, com o Pix, DREX e Open Finance propiciam ainda mais esse cenário.
Juntamente com isso, a adoção de IA para análises preditivas é ainda mais essencial em empresas financeiras, que por sua natureza são quantitativas.
Os desafios envolvem altos custos de capital, segurança de dados, concorrência e questões regulatórias.
E-commerce
A maioria dos brasileiros compra online, mas o setor enfrenta desafios como questões macroeconômicas e regulamentações em constante mudança. Os casos recentes com a Magazine Luiza e a Americanas deixam ainda mais incerto os próximos passos do mercado.
As oportunidades residem na digitalização de pequenas empresas, no comércio ao vivo e na aprendizagem com players internacionais. Players como o TikTok já começaram a realizar movimentos para entrar no mercado de compras, e players como a Shein e a Shoppe investem mais e mais no Brasil, mas esbarram com questões regulatórias.
Logística
Apesar da redução no volume de financiamento, as startups de logística ganham uma parcela maior do total de investimentos de capital de risco. As tendências incluem demanda por conveniência, produtos transfronteiriços e eficiência por meio de IA e IoT. As oportunidades incluem logística para nichos digitalizados, rastreamento de emissões de carbono e aumento do uso de IA.
SaaS (Software como Serviço)
O financiamento do SaaS cresce, contrastando com a recessão geral do mercado de startups. As tendências pós-pandêmicas envolvem trabalho híbrido, eliminação de redundâncias e IA aprimorando o SaaS. Os desafios incluem retenção de talentos, crescimento, privacidade de dados e educação de mercado.
Proptech
O investimento de capital em Proptech recua menos que a média em 2023, atingindo uma parcela de capital total em 5 anos. Tendências incluem acesso acessível à moradia, renovação de escritórios e eficiência por meio de IA. Oportunidades envolvem Open Finance, regulamentação sustentável de imóveis e IA Generativa.
Healthtech
A Healthtech, pós-COVID, entra em uma fase mais madura com aumento do investimento de capital de risco. Tendências de curto prazo focam na melhoria do atendimento virtual e eficiência por meio de IA. Oportunidades de médio a longo prazo incluem atender à crescente população idosa, medicina de precisão e IA Generativa.
Edtech
Edtech enfrentou investimentos reduzidos em 2022 e em 2023, mas permanece essencial para a educação digital. Tendências incluem melhoria do acesso financeiro à educação, métodos de aprendizagem mais envolventes e uso de IA para educação personalizada. Oportunidades estão na capacitação da força de trabalho, requalificação e integração mais profunda com a IA.
Fontes
https://tomtunguz.com/2024-predictions/
https://medium.com/@profgalloway/2024-predictions-a16e3cae1596
https://www.bcg.com/publications/2023/future-of-fintech-and-banking
https://www.latitud.com/blog/the-latam-tech-report-2023-the-future-of-7-startup-sectors
https://open.substack.com/pub/abreu/p/update-do-mercado-de-vc-latam